quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Inocência
Era fim de tarde e o ponteiro não girava. O céu azul
desbotado, a grama amassada pelas crianças que corriam atrás daquela bola
encardida, descapelada. O cachorro latia, mas adiante uma roda de rapazes
jogando conversa fora, passando as horas, que para mim pareciam congeladas
nessa visão, nesse ar. Como uma fotografia panorâmica estatelando toda minha
realidade, no banco da praça, me arrebatando com fluidez a este horizonte. Horizonte
tão distante que pude ate ver a felicidade, mas antes que eu a alcançasse
despertei com uma voz que me perguntava:
- Ei, o que você esta escrevendo ai?
Confesso que
me inspirou um sorriso. A minha frente estava um menino magro e pequeno, talvez
seis ou sete anos, seus cabelos enrolados e bagunçados soltavam fios que
grudavam em sua testa por causa do suor que escorria. Porem, muito mais do que
seus cabelos desgrenhados, seus olhos de cachorro pidão me atraíram e me
causaram certo devaneio. E mergulhando mais profundo em seu olhar, eu pude me
encontrar ali de uma forma tão singela. Não pela simplicidade, ou pela expressão,
tampouco pelo brilho, mas por uma coisa que me
foi arrancada, e que infelizmente, dele também um dia se esvairá.
Inocência. Me pergunto onde esta você? O ser
feliz apenas por ser. O ser bom como se fosse um dom que lhe foi concedido em
sua total plenitude.
Eu respondi:
- Estou gritando em silêncio.
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