sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Inocência

Era fim de tarde e o ponteiro não girava. O céu azul desbotado, a grama amassada pelas crianças que corriam atrás daquela bola encardida, descapelada. O cachorro latia, mas adiante uma roda de rapazes jogando conversa fora, passando as horas, que para mim pareciam congeladas nessa visão, nesse ar. Como uma fotografia panorâmica estatelando toda minha realidade, no banco da praça, me arrebatando com fluidez a este horizonte. Horizonte tão distante que pude ate ver a felicidade, mas antes que eu a alcançasse despertei com uma voz que me perguntava:
- Ei, o que você esta escrevendo ai?

 Confesso que me inspirou um sorriso. A minha frente estava um menino magro e pequeno, talvez seis ou sete anos, seus cabelos enrolados e bagunçados soltavam fios que grudavam em sua testa por causa do suor que escorria. Porem, muito mais do que seus cabelos desgrenhados, seus olhos de cachorro pidão me atraíram e me causaram certo devaneio. E mergulhando mais profundo em seu olhar, eu pude me encontrar ali de uma forma tão singela. Não pela simplicidade, ou pela expressão, tampouco pelo brilho, mas por uma coisa que me foi arrancada, e que infelizmente, dele também um dia se esvairá. Inocência. Me pergunto onde esta você? O ser feliz apenas por ser. O ser bom como se fosse um dom que lhe foi concedido em sua total plenitude.

Eu respondi:

- Estou gritando em silêncio.